terça-feira, 24 de setembro de 2013

É facultativo?



Então voltemos a falar sobre a parte mecânica de nossa estimada língua, a gramática normativa. Mais precisamente de empregos facultativos.

• Que expressão usar em:
Vou lhe entregar o documento “em mãos” ou “em mão”?
O uso é facultativo?

Resposta: Sim, é facultativo. Ou seja, opcional, podemos usar uma ou outra expressão sem trazer prejuízo semântico (significado) ao enunciado, pois a pessoa (destinatário) receberá o documento com uma mão ou duas mãos. Entretanto, há uma tendência de se dar preferência para o uso no singular “em mão”.

• Vou “até a praia” ou “até à praia”?

Facultativo. A expressão “até a” nos permite usar ou não a crase.
Ex.: Devo chegar na reunião até as / às 15 horas.

• Informei sobre a reunião “a sua assessora” ou “à sua assessora”?

É facultativo. Diante de pronomes possessivos femininos usaremos ou não a crase.

Outros exemplos: Informei “a minha / à minha aluna sobre as aulas.
Entrego-lhe o convite visando a / à nossa participação no evento.

• Solicitei o processo “a Maria” ou “à Maria”.

Também facultativo. Isto é, as duas formas estão corretas, pois diante de nomes próprios femininos, craseamos ou não o artigo “a”.

Aliás, estes são os três casos da crase (“até a” - pronomes de posse femininos – nomes próprios femininos) que são de uso facultativo.

Mas quando usar um ou outro, já que o emprego é opcional?

Tudo vai depender do estilo de escrever do autor do texto; de quem assinará o texto e, principalmente, do contexto em que se situa o texto. Também, daremos preferência ao uso de determinada expressão ao consideramos os termos utilizados antes e depois da expressão. Por exemplo:

Entrego ao senhor o convite com vistas a sua participação, pois a reunião, que ocorrerá amanhã às 15 horas, visa à melhoria do sistema recentemente implantado. Posteriormente, informarei do local deste evento ao senhor e a sua equipe.

Neste texto, além do estilo do seu autor e de quem o subscreverá, é imperante ainda que tenhamos cautela no demasiado uso da crase, já que é obrigatório seu emprego nos artigos “a” que ocorrem em “...às 15 horas” e em “...visa à melhoria”. Para melhor enxugamento deste texto, recomenda-se não usar a crase antes dos pronomes possessivos femininos em “...a sua participação” e “...a sua equipe”.

Quem faz a gramática somos nós falantes. Ela não nasce do acaso. E não existiria sem nossa existência. Parece ser óbvia esta constatação, mas é preciso fazê-la presente em nossa lembrança dia a dia. A gramática pouca anda, fica estagnada no tempo como poça d’água. Ao contrário, a língua anda (e às vezes muito rápido) e, nas palavras do professor linguista Marcos Bagno, flui como rio para bem movimentar poças d’água.

E, quando expressivo grupo de falantes do idioma tupiniquim consagra o uso de determinadas expressões de sua língua no meio social, estas podem ser incorporadas naturalmente na gramática normativa, a exemplo das expressões de uso facultativo.