quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

QUESTÃO DE GÊNERO

Questão de gênero


A pergunta que não se cansa de calar: “a presidente” ou “a presidenta”, qual destas duas formas devo usar? As duas formas estão gramaticalmente corretas. O substantivo comum de dois gêneros “presidente” vale tanto para masculino quanto para feminino, desde que venha acompanhado do artigo definido “o” ou “a”.

É necessário saber, entretanto, que a forma feminina mais comumente falada e escrita é “a presidente”, pois a maior parte da comunidade linguística brasileira percebera que a expressão “a presidenta” soa como hipercorreção, quer dizer, a busca do uso correto que se eleva “acima da correção”, tachar o termo correto como incorreto. Por analogia, teríamos, na tentativa de “corrigir” em vão uma determinada palavra, “a videnta” como forma optativa para feminino de “o vidente”. Mas também, pelo mesmo motivo de “a presidenta”, preferiu-se usar “a vidente” no lugar de “a videnta”. Do mesmo modo, preferimos pronunciar e grafar “a combatente”, e não “a combatenta”; “a servente”, e não “a serventa”; “a gerente”, e não “a gerenta”.

Nos substantivos compostos, flexionamos apenas o primeiro elemento. Assim, teremos “a diretora-presidente”, por exemplo. E a respeito de “o governante”, “a governante” de um país? Veja que, se optarmos pela construção “a governanta do país”, poder-se-á dar margem à eventual interpretação de se tratar da governanta que cuida de uma casa, aquela profissional contratada para educar crianças, e não a mulher que preside uma nação.

No mundo de hoje, tão marcado pela emancipação da mulher, com sua crescente inserção no mercado de trabalho, há uma preocupação natural - e justa - de a mulher preservar e disseminar tudo o que diz respeito a seu gênero feminino.

Uma coisa é o cargo em gênero masculino, outra coisa é o gênero da autoridade que assina. Por exemplo, o cargo de Ministro, Assessor, Professor, Diretor de uma dada instituição. Seus respectivos titulares, se mulheres, assinarão um documento obviamente como Ministra, Assessora, Professora, Diretora. Não se admitem, portanto, construções do tipo: “o assessor Maria”, mas sim “a assessora Maria”.

Observe as três frases seguintes.

O piloto pilota o helicóptero.


A criança lê o livro de Monteiro Lobato.


Meu ídolo está cantando no palco.

Estas três frases assim, soltinhas, pronunciadas e escritas sem nenhum referente anterior (anafórico) e posterior (catafórico), nos impossibilitam de afirmar se se trata de um piloto homem ou mulher, de uma criança menino ou menina ou se o ídolo refere-se a um cantor ou cantora.

Estes substantivos são chamados de sobrecomuns. São invariáveis, isto é, não variam em sua terminação nem no artigo que o precede. Sendo assim, não existem as formas “a piloto” ou “a pilota”, “o criança”, “a ídola”.

A seguir, alguns substantivos sobrecomuns seguidos de respectivas frases exemplificadoras. Por sua essência, estes substantivos admitem somente um ou outro artigo, a saber: “o” ou “a”

O cônjuge (não existe “a cônjuge”).

Ex.: Ele tinha que informar dados do seu cônjuge.


O indivíduo (não existe “a indivídua”).

Ex.: Aquela moça era um indivíduo suspeito.


O gênio (não existe “a gênia”).

Ex.: A aluna de minha sala é um gênio.

O membro (não existe “a membra”).

Ex.: Comuniquei-lhes que as assessoras são membros do comitê.

O sujeito (não existe “a sujeita”).

Ex.: Minha irmã é um sujeito divertido.


A sentinela (não existe “o sentinela”).

Ex.: Instruí aquelas sentinelas - homens de bons costumes - a ter maior atenção em suas atividades.


Assim deve funcionar a nossa língua, dinâmica e prática também na questão de gênero. Falar e escrever aquilo que a comunidade linguística achar gramaticalmente convencional e consagrado. Tudo, é claro, para dar maior clareza à mensagem que se pretende transmitir.
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Bibliografia:

DUBOIS, Jean et al. Dicionário de lingüística.

Ed. Cultrix, São Paulo/SP; 1973.